Suicidas no Japão batem ponto em bosque tenebroso

Aokigahara, ao pé do Monte Fuji, é o local com maior número de mortes

Lugar tem mata fechada, cavernas que nunca descongelam e cadáveres dão em árvores


Randy van der Heide / Acervo Pessoal


O lugar mais assustador do mundo se chama Aokigahara e fica no Japão, ao pé do monte Fuji. É um bosque tão fechado que, quando o sol brilha sobre ele, a luz penetra pelos vãos entre as copas das árvores e forma pilares de luz. Tem aspecto fantasmagórico. Depois de um tempo caminhando, as árvores se fecham de tal maneira que é impossível ouvir algo além dos sons que a natureza faz. O solo é escuro, formado por rochas vulcânicas e frias. Essas mesmas rochas formam cavernas cheias de gelo que não derretem nem durante o verão.

Digamos que você não saiba da reputação de Aokigahara e resolva fazer um passeio. Logo nos primeiros passos, ao notar placas que dizem “por favor, reconsidere” ou “antes de decidir morrer, consulte a polícia”, você vai perceber por que o escritor Wataru Tsurumui definiu o bosque como “o lugar perfeito para morrer”em seu livro “The Complete Manual of Suicide”.

Anualmente, cerca de 70 pessoas vão para Akigahara e nunca mais voltam. A forma mais comum de suicídio é por enforcamento. Isso não é de hoje. Existem registros de que, por volta de 1830, quando o Japão passava por um gigantesco perrengue econômico, as famílias de camponeses famintos abandonavam bebês e idosos inválidos no bosque para que eles morressem e, assim, diminuísse o número de bocas para alimentar.

Há pelo menos duzentos anos Aokigahara carrega a fama de abrigar os yurei – como são chamadas as almas penadas de gente que partiu antes da hora. Estudiosos em manifestações paranormais dizem que as árvores do bosque dos suicidas têm energia maligna por causa do número de suicídios e, por causa disso, não querem que as pessoas deixem o bosque. Evidentemente, tudo viagem.

Nesse lugar macabro alguns profissionais trabalham apenas para buscar corpos de suicidas. Pelotões de busca, formados por voluntários e bombeiros, se revezam em turnos e sempre acabam encontrando corpos em diferentes estágios de decomposição. Os cadáveres não estão imunes a animais da área e são encontrados parcialmente devorados por animais.

Uma espécie de ritual torna o trabalho mais complicado. Assim que os mortos são trazidos para a base onde ficam os responsáveis por recolher os corpos, eles são levados até uma sala. Nesse ambiente, há duas camas – uma para o cadáver e outra para alguém que dormirá no mesmo lugar. Acredita-se que, se o presunto ficar sozinho nessa noite o yurei vai berrar a noite inteira. Para evitar que isso aconteça, os cata-corpos tiram a sorte no tradicional jan-ken-pon (o nosso joquempô, em seu nome original) para ver quem é que vai dividir o quarto com o defunto.

A fama do lugar fez com que a autoridades mudassem a postura. Ao invés enviar gente para buscar os corpos, o governo designa pessoas para ficar alertas ao menor sinal de atividade suspeita e fazer de tudo para evitar o suicídio.

Foi mais ou menos isso que aconteceu com Taro (nome fictício), homem que virou tema de uma reportagem da CNN. Ele comprou uma passagem só de ida até Aokigahara e, chegando lá, cortou os pulsos. O corte, no entanto, não foi fundo o bastante para matá-lo. Então, Taro ficou vagando pelo bosque por dias, até não aguentar mais e desabar em uma moita, derrotado pela desidratação, fome e hipotermia. Só não perdeu a vida porque um sujeito que fazia trilha o encontrou e soou o alarme. Taro perderia os dedos de seu pé direito, congelados, mas acabou salvo. Ele teria declarado a autoridades estar envergonhado por ter feito o que fez, mas admite que ainda pensa em suicídio.

- Eu tento não pensar nisso, mas eu não posso dizer “nunca”. No momento, a vontade de viver é maior, diz ele.

O Japão é o país com os mais altos índices de suicídio no mundo e, em números absolutos, Aokigahra só perde para a Golden Gate, conhecida como ponte da morte, em São Francisco (EUA). De acordo com o governo já foram registrados 2.645 casos de suicídio em um ano. Em janeiro deste ano a coisa piorou – houve um aumento de 15% em relação ao mesmo período de 2007.

A crise econômica foi apontada como culpada pelo aumento no número de suicídios e o governo acendeu uma luz vermelha. A prioridade agora é controlar a taxa de por meio de programas de conscientização nas escolas e no ambiente de trabalho. A intenção é que, até 2016, esse número seja reduzido em pelo menos 20%.

Quanto a Aokigahara, não há muito o que fazer. O próprio status de “bosque dos suicidas” não ajuda em nada. Quando era prefeito de uma das províncias próximas ao bosque, Takatoshi Kobayashi foi citado no jornal japonês Mainichi News, em 2001, dizendo o seguinte:

- A gente tem tudo aqui apontando pra nós como um lugar pra morrer. Talvez a gente devesse se promover como “Cidade do Suicídio” e encorajar as pessoas a virem para cá. Claro que isso é uma piada, mas nós temos que fazer alguma coisa para mudar a situação.